Uma semana antes do primeiro “lock down” em março de 2020 iniciei o trabalho na empresa em que estou até o momento em que escrevo esse texto, em um escritório dentro do Tecnopuc (na PUC-RS em Porto Alegre). Iniciei dia 9 de março, pegava dois ônibus para ir e dois para voltar, e trabalhei presencialmente durante 7 dias, na segunda-feira seguinte todos fomos mandados para casa por causa da pandemia, e desde então trabalho juntamente co minha esposa em nosso escritório organizado em um quarto desocupado em nosso apartamento na zona norte de Porto Alegre.
Nesse meio tempo, a empresa mudou a sala e o prédio no Tecnopuc (está linda e mais segura para trabalhar durante a pandemia) e algumas equipes começaram a voltar ao trabalho presencial gradualmente no fim de 2021. Por estarmos 100% alinhados no trabalho do dia-a-dia com ferramentas online (Teams, Jira, etc, etc), eu e alguns colegas das equipes de desenvolvimento combinamos nos encontrar nas quinta-feiras, passar o dia no ótimo escritório e almoçar juntos. É muito bom reencontrar colegas que ficaram amigos, sair do ambiente de casa e todo o mais. Acho que um dia por semana para trabalho presencial em outro ambiente é pouco, na minha opinião, iria de dois a três dias por semana para o escritório, vivenciar outro ambiente e conviver com outras pessoas.
Os prós já descrevi acima, porém os contras também temos que calcular: com a pandemia a frequência dos ônibus diminuíram muito em Porto Alegre, fora o perigo de contaminação e o custo das passagens, então vou de carro para a PUC. Gasto gasolina e estacionamento. Calculei cada ida para o escritório um gasto que fica entre R$ 20,00 e R$ 30,00.
Porto Alegre está já a uma década construindo ciclovias na cidade toda, e apesar do meu bairro ainda não ter quase nenhuma, eu iria de bicicleta muito feliz até a PUC, pelas ruas e ciclovias das artérias da cidade. Seria um exercício fantástico e natural, 9 Km de ida e 9 de volta. Porém ao chegar no trabalho não tenho onde deixar a bicicleta, mas esse não é o pior dos problemas: não posso pedalar 9 Km e simplesmente sentar no meio dos colegas no escritório, preciso de um banho. Nesse caso tenho zero infraestrutura junto ao meu espaço de trabalho.
Se houvesse uma forma de poder ir de bicicleta, meu custo diário pode chegar próximo a R$ 0,00. E não é um problema somente do espaço onde fica o escritório de minha empresa: 95% dos prédios e regiões de escritórios não tem uma estrutura maior que uma copa para preparar lanches e máquinas de café. Os locais onde se espera que a maior parte da inovação vá surgir no século XXI tem a mesma estrutura de 1970.
Antes da pandemia trabalhei em outros “hubs” de tecnologia de Porto Alegre, como a Avenida Carlos Gomes e Goethe e em torno de 2015 pra cá muitas salas começaram a ficar desocupadas, inúmeros artigos na imprensa local descrevendo a situação de desocupação de escritórios e até prédios inteiros com os valores de aluguéis caindo vertiginosamente, primeiramente por causa da crise econômica e agora por conta do home-office/pandemia. Ao mesmo tempo o conceito de co-working vindo com tudo para nossa capital provinciana, inúmeros espaços novos surgindo em vários bairros. Onde eu moro há dois espaços de co-working a cerca de menos de 50 metros do meu apartamento, e um terceiro será construído em 2022 a 30 metros daqui. Com a pandemia os próprios co-workings sofreram e alguns até fecharam, porém é o setor que está retomando mais rapidamente e com inovações de compartilhamento e qualidade de vida para os trabalhadores contemporâneos.
Estou hoje com 44 anos e por vezes me sinto mais dinâmico, preocupado com meu corpo, minha mente do que colegas que estão na faixa dos 20 a 30 anos. A inclusão no mercado de trabalho de muitos setores – especialmente de TI – não tem mais preconceito com 40+ e mesmo 50+ ou 60+, há um déficit de mão de obra e uma busca de profissionais com equilíbrio e maturidade. E todas as faixas etárias querem um futuro com mais qualidade de vida e diria que essa percepção é maior por parte de quem tem 40+. Nesse caso, e já no presente, precisamos de estrutura mais moderna que máquinas de café delicioso, copa e ambiente lúdico, fora a obrigatoriedade de estar presencialmente nos escritórios para usar as mesmas ferramentos para reuniões online que usamos em casa.
Com o fenômeno dos nômades digitais, profissionais que optam por morar em locais e países que oferecem vistos especiais para quem pode trabalhar para empresas estrangeiras de qualquer lugar do mundo, os escritórios perdem o sentido, mais uma vez, em uma outra escala. E ainda nem chegou direito aqui o Metaverso…
Creio que espaços de co-working vão ganhar terreno ainda mais e talvez prédios inteiros, construídos a poucos anos para locar grandes salas para empresas por aluguéis altos vão se converter em espaços para compartilhamento, abrindo espaço para empresas jovens gastando em aluguel por demanda, compartilhando recursos e oferecendo infraestrutura contemporânea para trabalhadores que querem uma vida saudável de corpo e mente.